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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Luz e sombra





Artigo dedicado ao Fisioterapeuta Dailton Alencar Lucas de Lacerda, professor universitário, militante na árdua tarefa de afastar da escuridão da caverna, aqueles que insistem em permanecer na ignorância.



No livro A República, escrito por Platão entre 390 e 370 aC, está descrito o"Mito da Caverna", um diálogo entre o filósofo Sócrates e Glauco - irmão mais velho de Platão - no qual é abordado o tema da natureza humana relativamente à instrução e à ignorância. Desenvolve-se como uma parábola, buscando explicar a concepção platônica do conhecimento, dando valor, tanto ao conhecimento intelectivo quanto ao conhecimento sensitivo. Ressaltando que, pelos sentidos pode-se chegar, no máximo, a formar uma opinião, enquanto que pelo intelecto é produzido o verdadeiro conhecimento universal. Com esse mito, Platão produz uma quebra entre conhecimento intelectual e conhecimento sensitivo, que no homem remonta à sua natureza, corpo e alma.

O diálogo tem início com Sócrates pedindo a Glauco que imagine homens morando em uma caverna escura, acorrentados desde a infância e que somente poderiam permanecer no mesmo lugar e olhar para frente, não podendo mover a cabeça nem o pescoço por causa dos grilhões. Por trás desses homens, uma fogueira fornecia luz, enquanto que, entre o fogo e os homens, passa uma estrada ascendente, tendo ao longo um muro. Desse modo o fogo projetava sombras na parede da caverna e nela eram vistos homens com objetos e animais, ouvindo-se vozes e ruidos , intercalados do silêncio dos que transpunham o muro.


Glauco considera estranho o quadro imaginado, ao que Sócrates assevera: " Assemelham-se a nós", complementando que, os habitantes da caverna atribuiriam realidade somente ao que era visto e escutado das sombras projetadas na parede.

Em seguida, Sócrates sugere a libertação de um desses prisioneiros da caverna, que é levado à luz, saindo da condição escura da ignorância. O primeiro passo do homem liberto é bruscamente afetado pelo deslumbramento, que o impede de ver os contornos reais do que antes era sombra. O liberto aos poucos vai se adaptando a nova situação e ao lembrar-se dos antigos companheiros, fica alegre com as mudanças ocorridas, já que ele agora conhece a verdadeira realidade, não sendo mais escravo da ignorância e, sente pena dos que ficaram naquele lugar escuro.

Sócrates, nesse ponto do diálogo, pede a Glauco que imagine agora o homem liberto da ignorância voltando à caverna, e sentando-se no mesmo lugar que antes ocupava ao lado dos antigos companheiros. E pergunta: "Não estaria o homem com os olhos cheios de escuridão depois da exposição ao sol? E isso não provocaria riso nos antigos companheiros, por ter estragado a vista; não valendo a pena tentar subir até lá?".

O "Mito da Caverna" pode ser interpretado tanto do ponto de vista epistemológico, ou seja ,pelo estudo da origem e do valor do conhecimento humano, como foi dito no início, quanto do ponto de vista político. Permanecendo, portanto, perfeitamente aplicável aos dias atuais.



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6 comentários:

  1. Caro Geraldo.
    Sou um leitor assíduo do seu blog. Fico honrado e lisongeado com a dedicação do seu artigo. Isso só nos motiva a continuar o debate: o que queremos para a Fisioterapia?
    Ficar na caverna vendo as "sombras" (saúde como lógica de mercado; formação nessa mesma lógica; “visão míope” da fisioterapia, fragmentada, focada na doença, nas especialidades, na hospitalização, descontextualizada da saúde universal, integral e equânime; exploração, precarização, assédio moral, autoflagelo, autofagia e "prostituição" profissional; ou, tentar sair para a "luz" (saúde como bem social – “...direito de todos e dever do estado”-; defesa radical do SUS; formação integral, multi, inter e transdisciplinar, para atender as demandas sociais de saúde da população; profissional fisioterapeuta compreendendo as determinantes e condicionantes do processo saúde-doença; organização, empoderamento e autonomia político-profissional, etc., etc., etc....).
    É isso aí companheiro, a luta continua! (parece clichê, mas tá bem atualizada pra nossa situação, não achas?).
    Abraços,
    Dailton ("cabra" de Coremas-PB)

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  2. Caro Daílton,
    Verdade:"Via ascendente que aproxima o homem ao logos".(Heráclito).A dedicatória é tão verdadeira quanto o comentário do "cabra" de Coremas-PB. É necessário que a verdade venha à tona, por meio dos próceres da Fisioterapia,entre os quais nos incluimos,sem falsa modéstia.
    A luta continua!
    Não ao Ato Médico!
    Um grande abraço, Geraldo Barbosa

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  3. Geraldo verdadeiramente um texto que escancara a mente, e que nos faz pensar. Coisa que muita gente não está praticando;Pensar, parabéns!
    Ah, o endereço do meu blog continua o mesmo:wwwmeussketch.blogspot.com
    Abraços!

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  4. Caro Adriano,
    Agradeço sua visita ao Blog e suas elogiosas palavras quanto ao texto.Isso nos fortalece e permite que continuemos na luta.

    Ontem passei pelo seu blog, e ví que a série de desenhos nos ônibus continua com muito fôlego. Foi uma boa ideia manter o mesmo endereço.

    Um grande abraço, Geraldo Barbosa

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  5. Quando recebi seu e-mail referente ao seu blog, primeiramente pensei: "deve ser mais um entre tantos outros que vejo sobre a fisioterapia".

    Hoje, ao ler pela primeira vez a sua última postagem, gostei muito da forma com que escreveu e abordou o assunto. Então, resolvi dar uma fuçada em alguns temas, como este sobre filosofia.

    Confesso que fiquei surpreso e muito contente em saber que tenho um colega de profissão com tamanha capacidade.

    A forma como abordas os temas é bastante interessante. As publicações sobre filosofia trazem à luz o entendimento sobre termos, conceitos e idéias dentre outros e isto, no meu entendimento, você tratou muito bem.

    Não deixe de escrever sobre filosofia, e se puder, relacione com ela temas de fisioterapia, acho que esta é uma excelente forma de credibilizar e fortalecer a nossa profissão.

    Recomendarei o seu blog aos meus amigos e passarei a acompanhá-lo na minha lista de blogs.

    Parabéns!

    Daniel Arregue, blog: fisioterapiaemterapiaintensiva.blogspot.com

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  6. Prezado Daniel,
    certa vez ouví de um colega Fisioterapeuta, que infelizmente não se encontra mais entre os viventes,o seguinte: " uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco ". Essa frase me marcou e hoje eu a aplico ao conjunto de Fisioterapeutas atuantes no nosso país. É necessário portanto,que sejamos todos o " ELO MAIS FORTE ", como forma de resistência aos embates do cotidiano da nossa querida profissão.
    Um grande abraço.
    Geraldo Barbosa

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