Retitude de profissão
"A profissão deve ser um meio e nunca um fim em si mesma"
Gautama Siddhartha - O BUDA
No tempo em que Eduardo Portella ocupou o Ministério da Educação¹, no governo do então Presidente João Baptista Figueiredo, ele deixou a marca da sua passagem como efêmera ou transitória, ao afirmar: "Não sou ministro; estou ministro". Soltando o pensamento ao recordar tal frase, passei então a refletir, filosoficamente, sobre o que é "ser" ou "estar" Fisioterapeuta. Não do ponto de vista da pura e simples conclusão do bacharelado; com o consequente recebimento do diploma e posterior obrigatoriedade de registro no conselho profissional da categoria; ou seja, o procedimento normal para atingir determinado fim. No caso, exercer uma profissão. Ora, a essa altura poder-se-ia perguntar: Ser Fisioterapeuta como, fora desse contexto? A resposta que me vem à cabeça é: ser Fisioterapeuta do ponto de vista filosófico e existencial, como foi desse ponto de vista, o caso do Ministro citado, ou melhor, "não sou; estou". Parece difícil? Vejamos: existir é estar presente na vida real ou na imaginação, com determinada duração no tempo. A Filosofia Oriental dá uma pista: " O real é o individuo (o indiviso), o fictício é a persona ou máscara".
Humberto Rohden explica melhor: "Dizem de mim que sou professor e escritor, mas não sou isto nem aquilo, 'funciono' apenas, no plano horizontal, por meio de atributos ou 'personas', no cenário da vida terrestre. Eu sou o meu Eu, o indivíduo que desempenha, por algum tempo o papel de professor e escritor. Eu 'tenho' essa profissão transitória, mas não sou permanentemente isto. Eu sou o meu Eu individual, e não o meu ego personal". O Espírito da Filosofia Oriental - Martin Claret - São Paulo, 2009 (77-78).
O Filósofo escocês Duns Scot (1265 ou 1266-1308) tem uma definição para o Ser, denominado por ele unívoco, que como uma luva se ajusta aos meus objetivos analíticos: "O ser é dito em um só sentido de todas as coisas de que é predicado". Masip, Vicente - História da Filosofia Ocidental - EPU - São Paulo, 2001 (120). Tomo como exemplo: Geraldo é Fisioterapeuta; isso em oposição ao não-ser.
Nessa ordem de ideias, e seguindo Rohden na questão da transitoriedade, busco salientar que o indivíduo "tem" uma profissão, mas não nasce com ela, adquire esse "status" em determinado período da vida; mas não perde a identidade pessoal, com as coisas², tais como a vida privada, a família, os amigos, os 'hobbies' e por aí vai, acontecendo paralela e simultâneamente, enquanto o tempo passa.
No meu caso específico e particular, nasci num lugar sobre o qual Gilberto Freyre escreveu um livro, o "Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife", que segundo Edson Nery da Fonseca³ apareceu em 1934, com ilustrações de Luiz Jardim. Nesse livro do Mestre de Apipucos a rua da minha origem, a de São José, situada no bairro que tem o mesmo nome dessa rua, é descrita com muita nostalgia, lembrando crianças na calçada e o som dos pianos nas casas da vizinhança. Mas isso já é outra história. Não pretendo fugir do assunto.
Somente aos vinte e poucos anos "tornei-me" um Fisioterapeuta, percorrendo, até hoje, os caminhos da vida e da profissão. Um dia, no futuro, não mais exercerei essa atividade, deixando de lado a "persona" ou "máscara" fisioterapêutica, voltando totalmente a ser o indivíduo, ao meu Eu.
¹ - Disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Portella
² - Ao exprimir a palavra 'coisas' a considero no sentido de tudo que existe ou poderá existir
³ - Disponível em: bvgf.fgf.org.br/portugues/critica/artigos_cientificos/gilberto_conciliador.htm
Atualizado em: 19/05/2013
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