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sábado, 22 de setembro de 2012

Herdeiros de Esculápio




O livro Herdeiros de Esculápio - História e organização profissional da Fisioterapia (Edição do Autor - Recife: 2009), está esgotado em sua primeira edição, não havendo, no momento, perspectiva de uma segunda, motivo que nos leva a disponibilizar, dividindo em postagens sucessivas o capítulo que dá nome ao livro. Segue abaixo a primeira parte. Boa leitura.


HERDEIROS DE ESCULÁPIO

     Imaginem, leitores e leitoras, um triângulo equilátero com o símbolo da Fisioterapia no centro da figura e, em cada um dos lados desse triângulo as inscrições: Ciência aplicada, Processo terapêutico e Profissão. Observem aí consolidada a tríplice interligação da Fisioterapia como agora a conhecemos. Acontece que nem sempre foi assim, nem a Fisioterapia teve seu começo com os processos de recuperação física dos feridos durante a Segunda Guerra Mundial, como alguns pensam, e até divulgam, parecendo verdade. É necessário, portanto, ir em busca da origem.

            Bertrand Russel no livro intitulado História do Pensamento Ocidental, aponta o roteiro a percorrer:
Na verdade, há duas atitudes que podem ser adotadas ante o desconhecido. Uma é aceitar as afirmações de pessoas que dizem conhecer baseadas em livros, mistérios e outras fontes de inspiração. A outra consiste em sair em busca por si mesmo, e este é o caminho da ciência e da filosofia. (RUSSEL)

            Assim, como fez o poeta latino Virgílio que, apropriando-se da lenda de Enéias, o transformou no primeiro ancestral dos romanos, trazendo desse modo mais brilho e glória para o império, encontramos na Grécia, ainda criança, Egrégio filho de Apolo e Corônis, o personagem Asclépio.

           Sua mãe Corônis era filha de Flégia, rei dos Lápidas, um povo que habitava a Tessália. O nascimento de Asclépio tem todos os requintes da tragédia grega. Filho de um deus, teve sua mãe eliminada a flechadas por Diana, a caçadora – irmã gêmea de Apolo e tia de Asclépio – como punição porque temendo ser abandonada pelo deus, uniu-se a um mortal, filho do rei da Arcádia. Uma versão revela que foi arrancado do ventre da mãe e em seguida abandonado, conseguindo sobreviver devido a uma cabra que o aleitou e a um cão que, como é da propensão natural da espécie, velou por ele. Pertenciam esses animais a um pastor daquelas plagas, de nome Eristene, o qual, sentido-lhes a falta, saiu a procurá-los. Encontrou-os junto ao menino abandonado e surpreendeu-se com o clarão que rodeava o infante. Compreendeu imediatamente o mistério e não ousou seque tocá-lo ou recolhê-lo, deixando-o aos cuidados daqueles predestinados animais.

       O pai Apolo, ainda desesperado com a morte da mulher, a quem rendeu homenagens fúnebres; por arrependimento ou por pressão dos deuses do Olimpo, encaminhou Asclépio aos cuidados do centauro Quirão. Uma espécie de monstro, metade homem metade cavalo, possuidor de boas qualidades porque fora ensinado pelo próprio Apolo e por Diana. Na sua convivência como os homens Quirão havia alcançado notoriedade pelo cabedal de conhecimentos em medicina, na caça, na música e na arte da profecia. Era o preceptor perfeito para um futuro deus, pois o menino trazia em si a divindade, assim como a semente traz em seu interior a árvore.

            Ao levar Asclépio para casa, a fim de sua incumbência, Quirão foi recebido pela filha Ocírroe que saíra ao pátio para encontrá-lo, pois ouvira o estrépito dos cascos no solo pedregoso. Aquele ruído lhe era familiar. Ao ver o menino Asclépio junto ao centauro, percebeu o mesmo clarão que fora visto pelo pastor. Ela então anunciou por conjecturas, como um oráculo, sobre o futuro dele, profetizando a glóculo, sobre o futuro dele, profetizando a gl pois o menino trazia em si a divindade, assim como a semente traz em seu interior ria que alcançaria.


            A partir daí Asclépio foi iniciado na arte da medicina, desenvolvendo à medida em que sua idade avançava, uma habilidade tão grande que, já adulto, porém muito antes da velhice, descobriu o meio de ressuscitar os mortos, diminuindo assim a remessa de almas para os infernos. Tal feito, aliado ao risco com isso alterar a ordem do mundo, provocou a fúria de Hades, deus das profundezas subterrâneas. Os infernos. Hades revoltado, procurou Júpiter e pediu a sumária eliminação de Asclépio, no que foi atendido. Júpiter utilizando raios forjados pelos Ciclopes ataca Asclépio, indefeso diante da divindade maior, cujo domínio abrangia o céu e a terra.

            Asclépio morre e é recebido como um deus no Olimpo. Passa então a ser visto nas noites do hemisfério boreal, sob a forma de uma constelação denominada Ofiúco ou Serpentário. Certa vez atravessou o Mediterrâneo no formato de um enorme ofídeo, ao ser invocado pelos habitantes da península itálica, assolada por uma epidemia que vitimava grande número de pessoas. Lá chegando, o mal se dissipou, ficando a população agradecida pelo feito.

     Devido a essa forma de se revelar aos humanos são emblemáticas as representações do deus com volteios colubrinos, como uma serpente enlaçada em um bastão ou duas serpentes entrelaçadas nesse mesmo tipo de objeto. Asclépio é, além disso, representado por coroas de louro, uma cabra ou um cão. Há discordância porém, quanto a representação das duas serpentes no bastão. Segundo estudiosos da mitologia greco-romana, um erro de interpretação ocorrido na Idade Média, confundiu o símbolo de Asclépio com o Caduceu de Mercúrio, emblema da paz, da prosperidade e do comércio. O deus Mercúrio levava nas mãos um bastão com duas serpentes entrelaçadas - o caduceu - e com ele agilmente conduzia as almas nos infernos e fazia cessar os ventos. 

      Ainda hoje, esta é a representação/símbolo da medicina em alguns países, inclusive na arma de saúde de suas corporações militares. Para os brasileiros a Fisioterapia está representada oficialmente por um raio com duas serpentes verdes entrelaçadas e incrustadas num camafeu de fundo branco, proporcionando um impacto visual de grande força, movimento contido e rara beleza. Nele as serpentes se confrontam e apesar disso permanecem estáticas diante do raio ciclópico, enigmático em sua dualidade, pois ao mesmo tempo é mortífero e potencialmente recuperador da ação do movimento humano, figurando como símbolo da eletrotermoterapia.

(Continua na próxima postagem)

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