Texto publicado no Jornal da Associação Paulista de Fisioterapeutas (APF) Edição de maio/junho de 1980 - Pag. 3.
Em defesa da autêntica identidade
Levantou o problema o colega Eugênio Lopez Sanchez em seu artigo O DILEMA PROFISSIONAL. Realmente, grupos humanos que se prezam não deixam que se apaguem seus traços de identidade, por maiores que sejam os percalços sofridos.
O mesmo poder-se-ia dizer dos grupos profissionais. Facílimo é reconhecer os que assim procederam ou ainda procedem, pelo STATUS que ostentam na sociedade.
Marginalizados ficam os que não conseguem manter a identidade, seja por pressão de outros grupos mais poderosos ou por desorganização interna, ou ainda, pelo somatório desse dois fatores. O que não é suficiente ainda.
O grupo profissional aqui dissecado é o dos Fisioterapeutas, que relevantes serviços tem prestado ao setor saúde ao possibilitar através de seu anônimo sacerdócio a reintegração à força de trabalho do país, a um sem número de vítimas de doenças incapacitantes e o próprio desenvolvimento tecnológico. O que, diga-se de passagem, representa uma formidável soma de inestimável dedicação a causa do deficiente físico.
Essa comunidade profissional reúne aproximadamente quatro mil indivíduos, organizados em Conselhos, Associações Científico-Culturais e Pré-Sindicatos, aparentando assim indícios de identidade grupal.
No nosso entender o problema reside nos indivíduos componentes do grupo, e deve ser enfocado a partir da capacidade de trabalho, caráter e criatividade de cada um.
Em verdade, o início de tudo está na formação acadêmica do futuro terapeuta, ocasião em que lhe é inoculado o germe do complexo de inferioridade, administrado em doses não letais, porque não interessa o aborto e sim o nascimento de um profissional semiatrofiado, submisso e incapaz de defender os nobres ideais de engrandecimento classista.
O que espanta, nesse mar de submissão, é o aparecimento de atos heroicos às vezes isolados, de colegas que vislumbram uma posição mais justa para si e para seus companheiros, na comunidade dos profissionais de saúde. Suas ações, tidas por alguns como impensadas, tornam-se uma ameaça à esmagadora hierarquia vigente no setor.
O ideário da Fisioterapia, incipiente ainda, encontra-se no "estado fluido" de definir-se a si mesmo, o que torna muito difícil uma incursão mais profunda nessa área. Entretanto, passos decisivos foram dados recentemente pelas entidades representativas da classe, numa tentativa de estabelecer diretrizes que influirão a classe, e a longo prazo, no comportamento ético-profissional de seus representados. O modelo genuinamente brasileiro, visa o bem comum e com altivez despreza a subalternidade não prevista em lei. A normatização do comportamento individual determinará um futuro promissor para o grupo.
A partir daí, Fisioterapeuta autêntico ou perfeitamente identificado como tal, será aquele consciente de seu posicionamento em defesa dos legítimos interesses da comunidade profissional a que pertence; aberto ao diálogo, mas sem transigir de seus direitos inalienáveis; conhecedor profundo da ciência/profissão que abraçou e um praticante convicto das boas relações interprofissionais.