Dor crônica, drogas e dependência
Segundo informa o Relatório anual do Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) 2016: o mundo acumula 183 milhões de
consumidores de Maconha, 50 milhões de consumidores de Opióides, 36 milhões de
consumidores de Anfetaminas e 18 milhões de consumidores de Cocaína.
O uso de
Opióides para o controle da dor crônica (Medicamentos derivados do Ópio,
substância extraída da Papoula, de ação analgésica, narcótica e hipnótica;
usada na produção de Morfina e Heroína) é mais evidente nos Estados Unidos da
América onde as overdoses triplicaram entre 1999 e 2015, passando de 16.849
para 52.404, aumentando em 11% no ano
passado.
O Brasil tem a menor taxa de prescrição medicamentosa de
Opióides em relação a outros países como os Estados Unidos e a Austrália, por
exemplo. Consequentemente apresenta menos
problemas com dependência e overdoses. O consumo aqui é de 7,8 mg por pessoa
por ano; sendo comercializada no País mais de uma dezena de Analgésicos
Opióides (Drogas Lícitas), cuja lista é disponibilizada em sites da indústria
farmacêutica. Daí a importância de buscar informações disponíveis nos dois
países estrangeiros citados, para melhor entendimento do assunto em pauta.
Isso não significa ausência
de conhecimento, pesquisas e estudos sobre dor e tratamento adequado no Brasil,
apenas constata-se que lá fora a situação chegou a níveis alarmantes, como será
visto nos parágrafos seguintes. Feito o esclarecimento, vamos em frente.
A dor crônica, conforme o
Fisioterapeuta Régis Ferraz, “É uma realidade sem contestação
e atinge pessoas jovens e idosas, numa quantidade maior do que se avalia
normalmente”. Diz ainda que:
“Entende-se por dor crônica aquela que persiste por mais de três meses,
afetando os adultos numa proporção de um entre cinco indivíduos, tendo maior
incidência nas mulheres ou entre indivíduos com menor nível de escolaridade; no
Brasil os dados apontam para 30% da população com queixas ou sofrimento de
dor”. (Jornal do Comercio – Social 1 – pag. 10 Recife – 06/08/2017)
Nessa fase de dor é comum a prescrição de analgésicos, e nos
casos mais resistentes são prescritos Analgésicos Opióides, que podem causar
dependência.
Não é necessariamente preciso ter formação em saúde para
perceber que uma determinada pessoa é dependente de drogas. Muitas ocorrências
aparecem nos jornais e na TV, como é o caso de uma mulher que invadiu um
hospital em busca de Dolantina, um Analgésico Opióide injetável. Nesses casos a
imprensa informa tudo, dispensando conhecimentos nas áreas de saúde mental e de
farmacologia.
Dois exemplos de
dependência:
A Maldição dos Opióides: Vidas perdidas. Por
Tierney Bonine e Brigiid Anderson. ABC NEWS – Australia, julho de 2017.
- “Quando H.F. morreu
ela era obesa, movia-se com dificuldade no sofá sentindo extrema dor; ela era
tida na adolescência como uma garota feliz, estilo comediante, de acordo com
seu Pai. Aos 17 anos sofreu um acidente
de automóvel que a deixou com lesões no quadril, joelhos e pés. Os médicos
prescreveram remédios para controlar a dor. Mas, ao longo dos anos a situação
piorou; outros médicos prescreveram uma variedade de opióides, remédios para
ansiedade e comprimidos para dormir. Ela morreu aos 43 anos. Mais de 50 caixas
de remédios prescritos foram encontrados em seu quarto, incluindo analgésicos
opióides e um inalador para asma.
Um inquérito sobre a
morte de H.F. revelou que ela morreu de toxidade múltipla aguda por drogas.
Mais tarde, numa pesquisa on-line o Pai descobriu que alguns medicamentos
que sua filha tomava causavam dor, devido a uma condição denominada hiperalgia
induzida por opióides.
Segundo exemplo:
- “Quando você pensa em drogas, você
pensa em drogas ilícitas, Maconha e Cocaína; você não pensa naquelas que você
recebeu do seu médico. (Joeleen, 24 anos)”.
Estudo de Referência
O Jornal da Manhã de Sidney (Austrália) de 08/08/2017 divulgou
um Estudo de Referência de Longo Prazo, liderado por Cientistas Norte-Americanos
e Australianos que demonstra: Opióides não são bons para dor nas costas.
Pesquisadores advertiram nesse Estudo que a Austrália poderia
seguir no mesmo rumo dos Estados Unidos da América, onde morreram mais pessoas
por overdoses acidentais no último ano do que durante todo o período da Guerra
do Vietnã. Na sequência do Estudo o Dr. James McAuley, Pesquisador de dor da
Neuroscience Research Austrália (NeuRA) disse: “Embora o exercício tenha sido recomendado para a maioria das pessoas
com dor nas costas, a dor não diminuiu”.
No andamento americano do Estudo o Dr. Steven Asch, da
Universidade Stanford chama a atenção para a pesquisa do Dr.Erin Krebs em
conjunto com o Sistema de Cuidados de Saúde dos Veteranos de Mineápolis, quando
estudaram 240 veteranos que tomaram opióides para dor crônica nas costas e nos
joelhos em comparação com aqueles tratados por não opióides. “Os dados não
suportam a reputação de opióides como analgésicos poderosos” disse o Dr. Krebs
à publicação médica The Back Letter.
O Pesquisador James McAulen adiantou que a pesquisa de Krebs
era “importante” e relevante para quase 20% dos australianos com dor lombar que
recebem opióides. Perguntado pelo The Back Letter se ele tinha algum conselho
para pacientes e médicos, recomendou cuidado. “Agora, sabemos melhor. A melhor evidência argumenta contra o uso de
opiácios para pacientes com dor nas costas ou outras dores musculoesqueléticas”.
Escolha um
Fisioterapeuta
Uma Campanha recente da Associação dos Fisioterapeutas dos
Estados Unidos da América (APTA), divulgada pelo TWITTER da entidade em
12/07/2017, faz uma exigência quanto ao uso de abordagens não opióides, tendo a
Fisioterapia como tratamento de primeira linha para a dor crônica. A hashtag
#ChoosePT - Escolha um Fisioterapeuta -
abre a Campanha e destina-se a informar a população que a Fisioterapia é uma
alternativa efetiva às drogas para o tratamento da dor. Contida no site
MoveForwardPT./com/choosePT a Campanha inclui um anúncio de interesse público
em vídeo, bem como outros anúncios direcionados ao uso da mídia. Os membros da
Associação também podem aprender mais sobre o papel do Fisioterapeuta no
gerenciamento da dor.
De tudo que foi relatado, fica evidente o fato de que a Fisioterapia
continua sendo a melhor opção para o tratamento das dores musculoesqueléticas
crônicas. No Brasil, nos Estados Unidos, na Austrália ou em qualquer lugar do
mundo
#EscolhaUmFisioterapeuta
#GlobalPT.
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Nota do Editor:
O conteúdo deste texto serviu de base para apresentação no Fórum sobre Questões do Envelhecimento - Universidade Católica de Pernambuco em setembro de 2017.