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sexta-feira, 16 de julho de 2021

Opinião - Subsídios para a construção do sonho


 O
Estado de Pernambuco não possui no setor saúde uma Unidade de atenção especifica aos grandes sequelados, ou seja, aos grandes sequelados medulares ou mesmo aos acometidos por doenças que geram grandes perdas funcionais ou ainda às vítimas da violência urbana. 

Melhor explicando, o Estado não possui, ainda, um centro de reabilitação nos moldes da AACD de São Paulo, da ABBR do Rio de Janeiro ou do SARAH KUBITSCHEK de Brasília, que  atenda aos usuários do SUS.

Não por falta de idealistas e sonhadores, no bom sentido, até porque concomitante e paralelamente, no início dos anos 60, duas iniciativas mostravam força e pujança e visavam dar à Pernambuco um centro de reabilitação nos moldes dos já mencionados.

De um lado o Prof. Ruy Neves Baptista capacitava a equipe que pretendia  implantar a Associação Pernambucana de Reabilitação da Criança Defeituosa APRCD espelhada na AACD Paulista. Com esse fim, foi trazido para Recife, o então Governador Laudo Natel*que participou da solenidade, no Salão  Nobre da Sociedade da Medicina de Pernambuco. Sucederam-se vários eventos, destacando-se a Parada do Lírio, com a apresentação da criança símbolo da campanha, um menino vítima da Poliomielite, doença de grande incidência naquela época, o qual desfilou sobre um carro do Corpo de Bombeiros, exibindo muletas axilares e aparelho tutor longo para membros inferiores.

Do outro lado o Prof. Ladislau Porto juntamente com a Dra. Sarah Erlich, tocavam o  Centro de Recuperação Motora do Nordeste CRMN, instalado na Av. 17 de Agosto, no aprazível bairro de Casa Forte. Contaram para a montagem e funcionamento do Centro, com o respaldo científico do Dr. Howard A. Rusk, do Centro Médico da New York University - Bellevue.

Mas o destino tramou para que as duas iniciativas não prosperassem. Com a morte do Prof. Ruy Neves Baptista a APRCD passou a ser presidida pelo Prof. Bruno Maia que veio também depois de algum tempo a falecer. Sem uma liderança de peso, e ainda sem sem ter construido sua sede, a associação encerrou suas atividades.

 Quanto ao CRMN, chegou a ter um período de glória, porém, antes mesmo da morte de seu idealizador, já havia passado para o controle do governo federal por força de seus estatutos e regimento. Assim o Centro não recebeu por parte da LBA, órgão federal encarregado de geri-lo, a devida atenção e fechou suas portas, mostrando hoje, aos que por ali passam, a face do abandono e do descaso.

No momento, o que resta do acervo do CRMN foi cedida à Prefeitura do Recife, a qual em novembro do ano passado realizou um seminário sobre "Diretrizes para uma Política de Reabilitação para o Recife", incluindo no temário uma discussão pró soerguimento do CRMN.

Antes disso, a I Dires  em conjunto com a Secretaría Estadual de Saúde tentaram soerguer a obra sem êxito.

Por ser um empreendimento de grande porte e demandar recursos altíssimos, além de que, um centro de reabilitação pela complexidade de procedimentos executados por uma equipe multiprofissional  especializada, forçosamente tem que ser referência estadual. Desse modo não vemos, mesmo com o processo de municipalização em curso, como a Prefeitura do Recife possa isoladamente transformar o que restou do CRMN em local de atendimento especializado.

O que parece ser mais viável, no nosso entendimento, é uma ação conjunta das três esferas  do governo, dentro do espírito que norteia o SUS. Entretanto, não só a vontade política fará ressurgir o ideal e o sonho. Faz-se necessária uma mobilização do corpo social em torno da ideia. Coisa muito parecida com as campanhas Pró-Refinaria e Adutora do Oeste, por exemplo.

Pernambuso, mais uma vez, tem a chance, e o que resta do CRMN aliado ao atual estágio do setor saúde, se apresentam com possibilidas excelentes; senão, vejamos:

1) Existência de área em local privilegiado, ocupando quase um quarteirão inteiro, permitindo a restauração das obras danificadas e posterior ampliação para laboratórios de pesquisa, residência e pós-graduação;

2)  Abundância de mão-de-obra especializada nas profissões de saúde que podem lidar com o processo de reabilitação;

3)  A recente reorganização e descentralização Fisioterapia e da Terapia Ocupacional na área de abrangência da I DIRES, permitem a orientação e de um fluxo de pacientes sem agravamento e ainda com bons potenciais de recuperação.

Daí, se quisermos ser grandes e respeitados como povo e nação devemos mostrar que somos capazes de oferecer às pessoas deficientes as condições de reabilitá-las e devolvê-las à força de trabalho e ao convivio social.

 

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 O texto acima foi originalmente por mim publicado no Boletim Informativo da Primeira Diretoria Regional de Saúde - Ano III Nº 09 Recife Janeiro/Março de 1995, quando ocupava a Chefia da SOSS/DAPS/I DIRES, órgão da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.

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Notas:

-  O Governador de São Paulo, Laudo Natel, veio acompanhado do Dr. Renato Bonfim então Presidente da AACD para a solenidade de lançamento da APRCD no Salão Nobre da Sociedade de Medicina de Pernambuco.

-  LBA Legião Brasileira de Assistência.

-  No  espaço do antigo CRMN a Prefeitura do Recife construiu e mantém funcionando o Centro Médico Senador José Ermírio de Moraes, unidade especializada em Hipertensão, Diabetes e Oftalmologia.

-  A cidade do Recife  conta com uma Unidade de Reabilitação da AACD desde 1999.

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