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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Herdeiros de Esculápio - Parte III (final)


                                                
       


                            



 Herdeiros de Esculápio  - (Parte III - final)


           O século XX traz consigo a força propulsora para os avanços da ciência. E, aí sim, após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), a Fisioterapia cresce, busca ser independente como ciência, processo terapêutico e profissão, cristalizando-se como atividade plena na área da saúde. No Brasil, em meados dos anos 50, com a criação dos serviços de Fisioterapia, ainda sem Fisioterapeutas e, nos anos seguintes com a implantação dos cursos regulares em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, tivemos a escalada dos congressos, o intercâmbio com universidades estrangeiras, a ascensão na carreia universitária com os mestrados e doutorados, bem como a expansão das clínicas e dos consultórios. Índices altíssimos de procura para inscrições nos exames vestibulares foram atingidos. Tal crescimento despertou o interesse na abertura de novos cursos; alguns deles sem a necessária qualificação, o que provocou na sociedade uma reação de desconfiança quanto ao tipo de profissional que desse modo seria jogado no mercado de trabalho. Em se tratando de cuidar da saúde das pessoas, não seria possível, jamais, permitir a presença de profissionais com formação duvidosa no mercado. Todavia, ainda é cedo para uma avaliação do impacto nocivo dessa superabundância de cursos e de novos profissionais, na saúde da população. Este é o retrato de uma situação no mínimo preocupante, que levou a categoria a cobrar um posicionamento das autoridades educacionais e do Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional.

            Feita esta digressão, e para que se tenha um melhor entendimento de como a Fisioterapia evoluiu profissionalmente, saindo da noite dos tempos para a contemporaneidade, transcreve-se aqui trechos da carta enviada à Dra. Sônia Gusman então presidente do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, em 21 de maio de 1980 pela Secretária-geral da World Confederation for Physical Therapy, a Fisioterapeuta E.M.McKay; conforme foi publicada no Jornal da Associação Paulista de Fisioterapeutas – APF, em sua edição de maio/junho de 1980 – Ano 10, página 3, respeitada a grafia original:

“Muitos fisioterapeutas estão agora trabalhando no cargo da Prevenção, onde procedem à avaliação sem necessidade de a pessoa sendo tratada ter antes consultado um médico registrado. Consequentemente o Código de Ética da Confederação foi alterado na última Assembléia Geral e não inclui mais a exigência de que fisioterapeutas somente tratem de pacientes encaminhados por médicos [...]”.

Prossegue a missivista:

“Como no Brasil, a Inglaterra tem um Conselho para o registro de fisioterapeutas entre outras. Sua denominação completa é 'Conselho para as Profissões Suplementares à Medicina’, e cobre não apenas fisioterapeutas, mas outras profissões, incluindo terapeutas ocupacionais. A denominação foi estabelecida após muita discussão e consideração, e é resultado de cuidadosa escolha de palavras para descrever exatamente o alcance do Conselho. Não é, portanto, por acaso que ela se refere a profissão e ao fato de elas serem “suplementares”. Tal termo significa algo que é adicionado para preencher ou completar uma deficiência. Em outras palavras, estas profissões, incluindo a Fisioterapia, estão suprindo uma deficiência que a Medicina sozinha não pode suprir”.

E finaliza:

“Caso seu governo desejar, posso e teria prazer em fornecer a Sra. ou ao seu Sr. Ministro da Saúde, exemplos e confirmação adicionais que esta carta só tocou resumidamente[...]”

            É lamentável que os brasileiros, vinte e nove anos depois, não tenham atingindo ainda o patamar em que se encontravam os ingleses em 1980, muito bem resolvidos e conscientes quanto aos seus papéis como profissionais de saúde. Resta-nos, portanto, nestes sombrios primeiros anos do século XXI - “em que o mundo apresenta novas configurações, necessitando de novos saberes para que se possa interpretá-los” - reforçar a auto-estima da classe, enfatizando: Os Fisioterapeutas são herdeiros legítimos do deus Esculápio e beneficiários diretos do conhecimento científico universalmente acumulado.

            No porvir, grande parte envelhecida da humanidade estará aguardando esse conhecimento acumulado para ser cuidada e adequadamente tratada.


Fonte: Barbosa,Geraldo. Herdeiros de Esculápio – História e organização profissional da Fisioterapia. Recife: Edição do Autor, 2009.


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